A Pequenez Interior do Espírito

"Certas noites a solidão é mais profunda,
a consciência do tédio mais difícil de combater.
Terei realmente história, pergunta-se aquele
que anda ao acaso pelas ruas e pelos cafés.
Não lhe apetece sentar-se em lado nenhum,
também não lhe apetece mover-se.
Passeia de um lado para o outro,
é uma maneira de dizer "aonde é que hei-de ir?"
ou "que fazer da porcaria deste tempo?"
Recolhe a casa, rodeia-se de livros.
Liga a televisão, mas o espectáculo
da existência alheia cansa-o,
já não há qualquer relação entre
o seu desejo e as aventuras
Imaginárias que contam os filmes
que o aborrecem. A própria música
torna-se-lhe insuportável, tanta futilidade,
vontade de distrair as pessoas do drama
sem saída da existência. A existência é
um circo e nós somos os palhaços
do circo, pensa ele. Mas é indiferente
que pense isso ou outra coisa.
(...)é sempre díficil de suportar
o tempo que sucede o dia em que
nos descobrimos diferentes
de nós mesmos no espelho e despertamos
do sonho protector da ilusão.
Ilusão de sermos isto ou aquilo,
engano em que nos ajudam a subsistir
aqueles que nos adulam.
Apesar disso tenho sobrevivido,
acredito que habito numa casa,
que como à mesa, que fal com as
pessoas. Isto é, a irrealidade
do real é de uma verosimilhança
fantasmagórica. Mas que nos
prende a quê?
(...)Escrevo longos poemas
e neles
vou ao encontro da síntese.
(...)As palavras sucedem-se
como as cerejas no meu espírito
desertado pela presença ou a recordação
das coisas que existem e estão fora
do meu alcance. E bruscamente é meia-noite.
(...)"
João Camilo
in elogio do silêncio
Achei divinal....e resolvi partilha lo....identifiquei me mt com este poema...
S.T.N.
foto:Rita Araújo
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home